PARA NETINHOS (AS)

 

 

Querido(a) netinho(a) !

  

Quando eu tinha a sua idade, minha mãe me contava muitas histórias e eu adorava. Ela também me ensinava a recitar poesias. Então, eu percebia que muitos poemas eram histórias contadas em forma de versos.

Depois que cresci um pouco mais, eu ia até a uma biblioteca perto da minha casa. Lá passava horas lendo livros maravilhosos. Eu gostava muito dos que contavam aventuras vividas por reis e rainhas, mas também, apreciava os que narravam batalhas e vitórias de grandes heróis... Mas, os que mais me despertavam a atenção eram os que mostravam bichos e objetos falando e agindo como se fossem pessoas.

Eu penso que as histórias nunca envelhecem... Muitas - mesmo sendo antigas - como a do Sítio do Pica-Pau Amarelo, continuam ainda hoje a deixar todo mundo apaixonado. Quase sempre, elas são escritas de forma tão real, que dão a impressão que tudo está acontecendo mesmo.

Querendo dar a você alegrias iguais as que eu sentia quando era criança, resolvi aproveitar a "internet" e colocar as histórias que escrevi, aqui nesta página. São contos e poesias muito simples, sobre coisas que você está acostumado(a) a observar todos os dias.

Quando você encontrar palavras que ainda não conhece, não se preocupe. Pede ao papai ou à mamãe para lhe explicar os seus significados. Mas, se quiser, poderá ver direto num dicionário, onde as explicações das palavras estão bem detalhadas.

Então, fica combinado, de trinta em trinta dias, uma nova história... Que poderá ser contada em forma de conto ou de poesia.

 

Um grande abraço do vovô.

 

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 O ARCORIS 

 

 

                   

Quando achuva fina passa,

Como estivesse escondido                                   

Lá no céu surge, com graça,                            

Um arco bem colorido.                                      

 

Vermelha, azul de aquarela

Violeta, alaranjada

Turquesa, verde e amarela...

As sete cores da arcada. 

                         

Parece até uma ponte

No meio do céu azul,

Ligando lá no horizonte,

Este a Oeste ou Norte a Sul.

                                                                

Existem mais de cem lendas

Que tornam o arco encantado.

Dizem que, numa das fendas

Há um tesouro enterrado.                                                                  

 

Dizem ainda que há um tacho

De ouro, pra quem quiser...

Mas se o homem passar por baixo,

Vira logo uma mulher.

                                                                                     

Na ciência é explicado

Espectro da luz solar,

De Arco-Íris, é chamado

Pelo dito popular.                                                                                         

 

 

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A CASA ABANDONADA

 

         Rafael é um garoto muito esperto. Domina o computador como ninguém. Tem uma capacidade incrível para entrar e sair de qualquer programa, por mais difícil que pareça.

            Sebastião – o inseparável amigo “Tião”- sabe bem disso. A respeito das jogadas do colega, sempre comenta: “O Rafa é fera! Não dá pra encarar!”

            Mas, se tem alguma coisa capaz de tirar o Rafael da frente da “máquina”, essa coisa é uma aventura. O menino dá a vida por uma experiência arriscada.

Tião, que tem a mesma idade do companheiro, não fica atrás, pois também é ligado num mistério. Desta maneira, os dois formam juntos uma dupla especial. Já assistiram todos os filmes da série Harry Portter e, sempre que podem, curtem de novo as emoções transmitidas pelo herói da magia.

            E por falar em mistério, numa certa noite, no momento em que ia se deitar, Rafael escutou seu pai dizer para a sua mãe que lá para os lados da lagoa Jacunen, em Jacaraípe mesmo, havia uma casa abandonada. Que foi um cara muito esquisito, com barbas e cabelos espigados e avermelhados, que construiu, mas logo depois desapareceu, sem deixar vestígios. Sumiu de um modo muito estranho e ninguém sabe como.

            O garoto não conseguiu dormir. Um monte de pensamentos passou pela sua cabecinha: Como é que deve ser essa casa? O que é que pode ter dentro dela? Por que será que o cara sumiu? E cansado de tanto imaginar, acabou dormindo. Mas, no dia seguinte, tratou de ir correndo contar ao Tião o que tinha ouvido.

            _Tem certeza? Disse Sebastião sem acreditar no que o Rafa contara.

 _Pô! Foi meu pai que falou cara. Você acha que ele ia dizer mentira pra minha mãe?

 

Tião não teve outra condição senão acreditar e, então, os dois juntos começaram a traçar os planos para encontrarem a tal casa.

_A tia não pode saber que a gente vai lá... Senão! Alertou Sebastião.

Rafa ficou quieto como se procurasse uma saída para que tal azar não acontecesse. De repente, falou:

_Péra um pouco, minha prima Lili vem passar as férias com a gente...Neguinho, eu tô bolando uma idéia genial...Vai dar tudo certo, podes crê. E olhou pro amigo demonstrando um certo ar de vitória. Tião, nem quis saber qual idéia passara pela cabeça do maroto.

            Três dias depois a esperada prima chegou com a mãe e o pai. Uma alegria imensa atingiu a todos da família. Beijos de cá, beijos de lá e as malas foram colocadas no quarto.

            Lili nasceu um mês depois do primo e é tão esperta quanto ele. Está sempre aprontando alguma coisa... porém, nem sequer podia imaginar o que estava por acontecer.

            No dia seguinte, como havia sido combinado, Tião chegou cedinho à casa de Rafael. Logo ao se encontrarem, os dois amigos trocaram uns segredinhos e ambos saíram sorrindo. Lili, que já conhecia o Sebastião de outras visitas, nem deu bola para os cochichos, mas ficou espantada quando o primo tirando uma onda de guia turístico disse pra tia que iria levar Lili para conhecer a “casa de pedra”, como se ela não a conhecesse.

            Dona Dulce, a mãe do Rafa, achou até uma boa idéia. Como moravam perto não viu mal algum que fossem sozinhos até lá, mas recomendou que não se atrasassem para o almoço. O garoto, sentindo que o seu plano estava dando certo, sorriu de orelha à orelha. Tião soltou um “Legal!” tão alto que fez o Rafa agir de imediato:

  _Calma Tião, não precisa tanto. Disse Rafael preocupado com que sua mãe e a tia desconfiassem de alguma coisa.

Logo se deslocaram para a “casa de pedra”.

            Quando atingiram o meio do caminho, Rafael mudou o itinerário e Lili sentiu que havia alguma coisa errada.

 _Primo, a gente não está indo pra casa de pedra, né?.

Tião resumiu a conversa que o Rafa tinha ouvido e contou que o objetivo era chegar até à casa abandonada. A menina, logo se entusiasmou e disse para irem mais depressa.

            Depois de caminharem uma boa hora, os aventureiros chegaram à lagoa Jacunen, lá mesmo em Jacaraípe. Só que não sabiam qual o rumo que deveriam tomar para encontrarem a casa.

            _E agora? disse Lili. Rafael lembrou que seu pai também tinha comentado que a casa ficava perto de um coqueiro isolado. Naquele momento,Tião arregalando os olhos gritou:

 _Olha lá...Olha lá, aquele coqueiro no meio da mata! E os três saíram correndo por entre os arbustos que formavam a pequena mata.

            Mais uns dez minutos de caminhada e uma pequena casa de tijolos, embaraçada por cipós e trepadeiras, surgiu diante dos três jovens desbravadores.

            Rafa, que esperava encontrar um palácio, decepcionado com o que via, falou:

 _É um Barracão!

Tiãozinho, de pronto, consertou:

_Barracão não...Um barraquinho.

 E Lili completou:

 _É mesmo...Um barraquinho!

            Rafael observou que o barraco não tinha janelas, só uma pequena porta e que estava entreaberta. De imediato exclamou:

_Vamos ver lá dentro!

Sebastião argumentou:

_Pode ser perigoso!

 Rafa, cheio de coragem perguntou:

 _Não foi pra isso que a gente veio até aqui? E tomando a iniciativa, partiu na direção da entrada. Lili e Tião, cheios de curiosidade, imitaram o gesto do menino e os três, de pronto, se viram no meio do único cômodo existente.

Mas não é que por dentro, o barraquinho dava a impressão de ser bem maior que por fora?

De repente, os três ficaram paralisados...Olhos esbugalhados e boquiabertos. Uma máquina gigantesca ocupava toda a extensão da parede. Olhando bem, parecia que estava viva...Um monstro de metal e vidros que dava a impressão de querer engoli-los. Tinha um visor imenso, uns canos dourados que mais se assemelhavam a canhões prontos para atirar e um teclado a

zulado, todo luminoso.

 

Pouco a pouco foram chegando próximo à máquina. Rafa, todo metido, resolveu dar uma olhadinha ainda mais de perto. Lili, então, lhe perguntou:

_Você sabe mexer nisso?.

Quem respondeu foi Tião.

_Rafa? Rafa sabe tudo de computador.

_Mas, isso não é um computador, disse Lili.

Rafa fez “chiii”, colocando o dedo indicador na boca e depois de examinar cuidadosamente a máquina  pôs-se a digitar alguma coisa no teclado. Uma mensagem apareceu piscando no visor. PROGRAMA DE VIAGEM AO PASSADO ATIVADO. DIGITE A DATA E O LOCAL DESEJADO.

Os três não entenderam bem o significado do que estava escrito no visor, até que Tião e Rafael perceberam, ao mesmo tempo, do que se tratava e gritaram juntos:

_É uma máquina do tempo!

 Lili, sem ligar para o que poderia acontecer, pegou um controle que estava sobre a mesa ao lado da máquina e digitou BRASIL – 22 de abril de1570, exclamando “Vamos descobrir o Brasil!” E tudo que foi digitado apareceu na tela.

Tião corrigiu:

_Lili. Você errou... É 1500.

Porém não dava mais para consertar.

No visor surgiu SISTEMA DE VIAGEM ACIONADO e o barraco, de repente, se transformou numa roda viva girando sem parar. Só deu tempo para que os três dessem as mãos, mas Lili não largou de jeito nenhum o controle.

Quando o rodamoinho parou, os viajantes do tempo se viram em pé defronte a uma praça toda cercada de malocas indígenas e perto de uma construção de pedras de recife.

Passando a mão nos olhos, como se estivesse acordando Rafael falou:

 _Onde nós estamos?

Observou o lugar e respondeu a sua própria pergunta:

_Eu acho que conheço este lugar. Parece ser Nova Almeida, só que na época dos... Não chegou a completar o que queria dizer. Uma voz bem atrás dele o interrompeu:

 _Cá estamos em Aldeia Nova. Vozmicês não são deste aldeamento, pois não?

Os três se viraram e muito espantados viram um indiozinho apontando para a construção, ao mesmo tempo, que informava:

 _Acolá está a ser construída a Igreja e a Residência de Reis Magos.

Todos estavam intrigados, o pequeno nativo falava como se fosse um legítimo português. Lili então perguntou:

 _Quem é você?

_Eu sou Itãmi, filho de Tracajá-Açu e afilhado de Frei José de Anchieta, que ensinou-me a falar a língua portuguesa.

_Você vive aqui? Indagou Rafa.

_O Senhor meu pai ajuda na construção da Igreja. Ele está a pegar itãs na praia, para fazer a cal. Também queima as telhas modeladas pelos tapiúnas.

_Que são itãs e que são tapiúnas?. Quis saber o Tião.

_Itãs - respondeu o indiozinho - são conchas de moluscos encontradas na praia. Meu nome Itãmi significa concha pequena, na língua Tupi. E tapiúnas são pessoas como vozmicê – escuras.

_Você disse que seu pai faz cal com as conchas que pega na praia. Como é isso? Falou Rafael. O menino nativo explicou:

_Ao fazerem a massa de pedreiro, os tapiúnas misturam areia, barro, óleo de baleia e uma farinha feita de conchas moídas no pilão que é a Cal de Conchas.

Lili interrompeu a conversa e disse:

 _Como nós somos maleducados, perguntamos uma porção de coisas a Itãmi e nem sequer nos apresentamos a ele - e estendendo-lhe a mão apresentou a todos, começando por ela - Eu sou Lili, este é meu primo Rafa e este aqui é o nosso amigo Tião. Nós viemos de um tempo distante, mas isso não importa porque você não iria entender mesmo. Mas queremos que você seja nosso amigo. Está bem?

Itãmi sacudiu a cabeça e perguntou se eles queriam ver como estava sendo construída a igreja de Reis Magos. Todos responderam que sim e então observaram como os escravos faziam as paredes colocando pedaços de arrecifes - trazidos lá das praias - uns sobre os outros, com auxílio da massa de pedreiro.  

Depois andaram um pouco e viram dois escravos numa Kapuera (parte da mata roçada - capinada pelos índios e negros) perto da construção. Um estava sentado numa pedra, com uma perna estendida para frente. A sua perna servia de molde para um outro montar a telha, espalhando a argila (barro amassado) sobre ela, desde a canela até a coxa.

_Que irado! -disse Lili, batendo palmas - se não visse eu não ia acreditar.

 

Itãmi explicou que as telhas, logo após serem modeladas, eram expostas ao sol para secarem. Porém, era preciso que elas fossem cozidas no fogo para ficarem impermeabilizadas.

Continuaram a andar até chegarem no local em que esse o trabalho era feito pelos especialistas em artefatos de argila – os nativos da região.

Os índios já haviam preparado um braseiro com galhos secos de árvores e também colocado algumas telhas dentro dele. O fogo ardia e os galhos, em brasa, transformando-se numa verdadeira fornalha.

Depois retiraram do braseiro as telhas que estavam queimadas e em seguida salpicavam-lhes água com um molho de ervas.

 

_Que barato!

 

O passeio estava ótimo... mas de repente, uma índia muito bonita interrompeu a caminhada e perguntou a Itãmi quem eram os três curumins (crianças na língua Tupi).

_Senhora minha mãe, não se preocupe, estes cá são meus amiguinhos.

Ao ver a mãe do indiozinho, Lili logo lembrou que sua mãe e a tia deveriam estar preocupadas também, e indagou: _Como vamos voltar?

Rafa observou que a prima continuava segurando o controle remoto e disse:

_Eu acho que a gente pode acionar a máquina através do controle, é só digitar a data e local para onde queremos ir.

Tião, logo alertou:

_Por favor Lili, desta vez digite a data certa.

Rafa chegou bem perto de Itãmi e lhe disse que mesmo com pouco tempo, tiveram a satisfação de estarem juntos com ele e iriam sentir sua falta. Falou também que teriam que voltar para a casa...que seus pais os esperavam. 

Rafa tirou o boné de sua cabeça e, como uma prova da amizade, deu de presente ao indiozinho.

 Itãmi repetiu o gesto de Rafa e entregou à Lili o seu cocar.

Todos se abraçaram e os três visitantes se afastaram um pouco do indiozinho e de sua mãe. Rafael pegou o controle da mão da prima digitou corretamente a data desejada e o local do barraco. De mãos dadas sentiram mais uma vez a sensação de ver o mundo girar vertiginosamente e, num instante, os garotos estavam de volta. Em pé no meio da sala do barraco, Rafa tratou de deixar o controle sobre a mesinha. E mais que depressa partiu junto com a prima e o amigo para a casa.

Chegaram esbaforidos, indo direto para os quartos se aprontarem para o almoço, que já estava sendo servido.Rafael ao rever a mãe abraçou-a longamente. Depois, com muito jeitinho contou a aventura que tiveram e lhe pediu desculpas por ter mentido. A mãe o perdoou. Por certo, estava achando que tudo não passava de imaginação do garoto.

Mal sabia ela que o cocar de Itãmi estava bem guardado lá na mala da Lili.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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- exclamou Tião -  as paneleiras de Goiabeiras fazem assim mesmo para fabricarem as panelas de barro. Com certeza elas devem ter aprendido com os índios.